NINGUÉM MAIS VAI CALAR O GRITO POR LIBERDADE
Nós, veículos e coletivos de Mídias Negras organizadxs em todo território nacional, que estivemos reunidxs entre os dias 10 e 13 de outubro de 2019 – no Seminário Genocídios Contemporâneos, Reagir é Preciso[1] (em Belo Horizonte – MG), e que nos agregamos a esta articulação política a partir de então, viemos por meio desta carta-manifesto informar:
A mídia negra brasileira está unida em defesa da vida da população negra e pela reforma do sistema político no Brasil.
Somos cientes de nosso legado herdado da imprensa negra – prática comunicacional e jornalística iniciada oficialmente em 1833, no Rio de Janeiro – com o jornal O Homem de Cor, mas que tem suas raízes de organização política ainda antes: Na Salvador (BA) colonial e escravocrata de 1798, com os Manuscritos da Revolta dos Búzios, pregados nas paredes da cidade e soando gritos de liberdade que ecoaram dos campos de concentração-senzalas aos salões nobres da sociedade. Com destaque para experiências longínquas, como a do Jornal O Exemplo, no Rio Grande do Sul – que existiu entre os anos de 1892 a 1930, e o jornal Irohín, produzido em Brasília, com distribuição nacional – de 1996 a 2009.
Desde então, os povos negros do Brasil, reconhecidamente através da imensa pluralidade do que convencionamos a chamar de Movimentos Negros, sempre usamos as tecnologias de comunicação para denunciar o racismo, reportar direitos, mobilizar nossos pares e propor narrativas de liberdade.
O nosso acesso, mesmo que seletivo, aos meios de produção, ontem e hoje, sempre foi sob a missão de subverter a ordem racista hegemônica. Somos nós xs precursorxs, teoria e prática da Democratização da Comunicação no Brasil.
Hoje somos ainda mais diversxs nos formatos, linguagens, políticas editoriais e territórios de atuação. Ainda assim, nos alinhamos nos princípios de:
– Garantir o Direito à Comunicação da maior parte da população brasileira, composta em 54% de autodeclaradxs negrxs.
– Produzir narrativas alternativas, ou de enfrentamento direto, as lógicas racistas e sexistas da mídia hegemônica brasileira.
– Fazer frente às diversas formas de Genocídio da População Negra, com discursos em defesa das #VidasNegras – banalizadas e descartadas pelas estruturas do Estado e da sociedade, sob legitimidade da mídia hegemônica.
– Reverberar narrativas de felicidade e bem viver protagonizadas por pessoas negras, bem como, priorizar o bem-estar, a saúde e a qualidade de vida em nossas políticas editoriais, e em nossas atuações políticas-profissionais;
– Refletir e questionar todas as lógicas opressoras de poder na sociedade que agregadas ao racismo potencializam nossas vulnerabilidades, tais como o sexismo, a cisheteronormatividade, desigualdade de classe e as geopolíticas de poder.
Assim, reafirmando a liberdade e autonomia das nossas entidades, nos comprometemos em atuar em conjunto com os movimentos sociais organizados, especialmente com os movimentos negros, em sua pluralidade, na luta por uma sociedade livre das violências coloniais que fundam este país. Para tal, reafirmamos a importância das práticas coletivas e em solidariedade entre nós, mídias negras, a fim de que nossos discursos reverberem ainda com mais força, pela perpetuação e sustentabilidade de nossas iniciativas.
Em tempo, clamamos a sociedade brasileira a estar atenta a ordem de desinformação e manipulação da informação vigente em nosso país, ao constante ataque aos defensores de direitos humanos e a importância de acompanhar e incentivar veículos de comunicação negros comprometidos com a promoção dos direitos e a defesa da democracia.
Ninguém mais vai calar o grito de liberdade!
OBS: veículos, coletivos, canais e iniciativas em geral de mídias negras que queiram assinar o manifesto, enviar e-mail para: midiasnegrasbrasil@gmail.com
Assinantes deste manifesto (lista atualizada em 20 de novembro de 2019)
Alma Preta – Agência de Jornalismo
Associação de Produtores do Audiovisual Negro – APAN
Bahia 1798 – Rede de Mídia Livre
Blog Gorda&Sapatão
Blog Negro Nicolau
Blogueiras Negras – Portal
Canal Corpo Político – Ana Paula Rosário
Canal Ela Preta Afronta – Milly Costa
Canal Sapas Gordas – Milly Costa
Canal Sapatão Amiga – Ana Claudina
CMA HIP-HOP, Comunicação, Militância e Atitude Hip-Hop
Coletivo Papo Reto
Coletivo Terra Firme
Comissão de Jornalistas Pela Igualdade Racial / SJPMRJ – Cojira Rio
Cooperativa de Literatura Marginal
Conexão Malunga
Instituto Búzios
Instituto Mídia Étnica / Correio Nagô
Nação Z
Notícia Preta – Portal
Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiros do Simdjors ( Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS)
Portal BlackFem
Programa Evolução Hip-Hop
Programa Me Despache – Luciane Reis
Projeto Afro
QuilomboNews
Raízes TV
Revista Afirmativa – Coletivo de Mídia Negra
Revista Quilombo
Site Mundo Negro
Site Seja Extraordinária
TV Raça
[1] Organizado pelo Fórum Permanente de Igualdade Racial (FOPIR).