Estudo: “falta capital de giro” para 48% das mulheres negras empreendedoras

Por *Julio Menezes Silva.

Mulheres negras são uma engrenagem fundamental à economia brasileira. Injetam, sozinhas, em torno de 704 bilhões de reais por ano no mercado nacional (Instituto Locomotiva, 2019). É uma força humana de trabalho que representa uma massa de 28% da população brasileira, ou seja, são 60 milhões de pessoas (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de famílias brasileiras chefiadas por mulheres negras cresceu de 22% em 1995 para 41,1% em 2015, chegando a quase 16 milhões de pretas (IPEA).

Pesquisa divulgada no último dia 9 de abril pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), em parceria de EmpregueAfro, Empodera e a Faculdade Zumbi dos Palmares, indica quais são as dificuldades e necessidades de mulheres negras em período de isolamento físico e social, por ocasião da pandemia do Covid-19. A coleta dos dados foi realizada entre os dias 31 de março e 02 de abril de 2020, por meio de preenchimento de um formulário eletrônico. Ao todo, 243 mulheres de 19 estados e o Distrito Federal participaram do estudo, sendo 89.3% delas autodeclaradas pretas.

A pesquisa leva em conta três perfis de mulheres: empreendedoras (72%), profissionais de empresas nacionais (20%) e profissionais de empresas multinacionais (7,8%). Entre as empreendedoras, a dificuldade maior é a “falta de capital de giro” para dar continuidade aos seus negócios (48%). Ainda nesse universo, o maior medo dessa mulher preta não é com a saúde, mas sim perder seus clientes (46,9%). Entre as profissionais de empresas nacionais, 76,5% temem por seus empregos e indicam que a maior necessidade é apoio psicológico (39,7%). “Estou bem cansada e o que mais preciso agora é de apoio psicológico. Pois não sei até que ponto vou aguentar” é o desabafo anônimo de uma delas, que trabalha em uma empresa de TV.

Para o estudo completo, clique em: relatório mulheres negras. Antecipo para você, caro leitor, algumas de suas conclusões em números:

EMPREENDEDORAS
79,4% não dispõem de reservas financeiras
48% apontam que a principal necessidade é capital de giro (recurso para fazer o negócio rodar no dia- a-dia)  
44% das empreendedoras negras dizem possuir 1 mês de capital de giro
56% apontam ter custos mensais médios entre 1 mil a 5 mil reais
21,14% necessitam de auxílio como a de prospecção de clientes
10,29% necessitam de suporte tecnológico
7,43% necessitam mentorias
5,14% necessitam apoio psicológico

PROFISSIONAIS (empresas nacionais e multinacionais)
76,5% têm medo de perder o emprego
39,7% tem como primeira necessidade o apoio psicológico
13,2% temem ficar doentes
10,3% temem que ações de diversidade e inclusão sejam descontinuadas em suas organizações

A IMPORTÂNCIA DOS DADOS

Na semana passada, publiquei artigo nesse Fórum Permanente Pela Igualdade Racial no qual chamava atenção para a divulgação de dados por grupos étnicos. Nos Estados Unidos, por exemplo, as autoridades informaram pela primeira as mortes por Covid-19 por grupos étnicos. Entres os que mais morrem estão os hispânicos e os pretos.

Os esforços da sociedade civil, das organizações negras e de aliados pela sistematização da informação e dados não é de hoje. No artigo da próxima semana, apresentarei alguns exemplos de pesquisas e referenciais que, historicamente, contribuíram para refutar o mito da democracia racial e aceleraram as políticas afirmativas no Brasil.

* Julio Menezes Silva é jornalista, artista em formação. Coordena a área de comunicação do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) e integra o grupo de comunicação do Fórum Permanente Pela Igualdade Racial (FOPIR). É fundador e editor-chefe do blog QuilomboNews.