Sharpeville e o Dia Internacional contra a Discriminação Racial

Por Julio Menezes Silva (IPEAFRO/FOPIR)

Repugnante. Talvez esta palavra seja a mais adequada para descrever os fatos ocorridos naquele 21 de março de 1960, em Sharpeville, província de Gautung, África do Sul, quando cerca de 20 mil sul-africanos saíram às ruas para protestar contra o regime do apartheid – o regime supremacista branco que impunha restrições violentas ao negros – e foram assassinados brutalmente pela polícia que atuava sob o governo africâner, dos brancos. 

Nesta data, a humanidade atingiu um dos mais baixos padrões vibratórios ao qual se pode descer: foram 69 crianças, mulheres e homens  assassinados, 186 feridos e um mar de sangue e vergonha para humanidade, um exemplo típico de como o racismo operava na África do Sul  – e ainda hoje o faz no mundo.  

Após o massacre os protestos intensificaram-se por toda a África do Sul. A repercussão internacional foi grande. Pressionado, o governo africâner, invés de recuar, aumentou a violência: acabou com qualquer organização política na África do Sul, levando à clandestinidade partidos como o Congresso Nacional Africano (CNA) – cujo o jovem Nelson Mandela era uma figura importante e se tornaria, dezenas de anos depois, presidente da África do Sul livre do apartheid.  Antes, porém, Mandela passou pelo calvário de 27 anos de prisão, que começou em 12 de junho de 1964. 

Em 1966, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu a data como Dia Internacional contra a Discriminação Racial, um gesto pequeno em memória às vítimas do massacre mas, considerando o racismo estrutural vigente na sociedade capitalista, um marco representativo para não deixar o episódio cair no esquecimento. Qualquer semelhança com a realidade brasileira não é coincidência.

Por aqui, o genocídio do negro brasileiro está a pleno vapor pelo Estado: um jovem negro morto a cada 23 minutos. Em tempos de pandemia, por exemplo, negros e negras são os que mais morrem, são os que mais sofrem com a desaceleração da economia e com a miséria e a fome. Reportagem da agência Pública indica ainda que são os menos são vacinados, embora representem a maioria da população brasileira. Por estes e outros motivos nós seguiremos marchando contra esse racismo universal, capitalista, que insiste em nos perseguir e humilhar. Faremos Palmares de novo!