Novo fórum nasce com desafio de articular ações na América Latina

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O Fórum Permanente pela Igualdade Racial (Fopir) teve o seu lançamento esta semana marcado por debates sobre os novos caminhos da luta pela promoção da igualdade racial e de gênero no Brasil e na América Latina. A articulação, que reúne 14 organizações antirracistas, foi gestada na processo de construção da Marcha Nacional das Mulheres Negras, em 2015, e é liderada principalmente por mulheres negras ativistas e pesquisadoras.

“Mulheres negras do Brasil, precisamos de vocês fortes, seguras e unidas”, ressaltou a uruguaia Vicenta Camussu, da Rede de Mulheres Afrodescendentes do Cone Sul, convidada para o debate “Década dos Povos Afrodescendentes: onde estamos e para onde vamos?”, que marcou o lançamento do Fopir. Para ela, o quadro político na região é “desconfortável e perigoso”. Ela teme o avanço do conservadorismo e o retrocesso nas políticas de combate ao racismo.

“Queremos ser contadas. Temos o direito de saber onde estamos e o que fazemos para definir como queremos viver. São as mulheres negras que estão sofrendo com os novos processos de migração, mudanças climáticas e restrição de direitos”, destacou Vicenta. “Precisamos voltar a conversar novamente, fazer acordos mais regionais, dar mais atenção ao contexto do Mercosul. Conversar com sindicatos e movimentos sociais. Convencer as mullheres que elas podem liderar esses processos em toda região.”

A representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, afirmou que o Brasil é um exemplo de atuação política para os demais países das Américas. De acordo com ela, o combate ao racismo e ao patriarcado faz parte do Plano de Ação das Nações Unidas para o combate à pobreza e aos altos índices de violência contra a população de baixa renda, no contexto da Década dos Afrodescendentes.

“Nesse sentido, considero que o Fopir já se apresenta como uma instância fundamental para diálogos com a ONU. Vocês podem contar conosco. Vamos criar os mecanismos para que o trabalho do Fopir possa dar forma ao trabalho da ONU”, apontou Nadine.

A professora Dulce Pereira, da Universidade Federal de Ouro Preto, lembrou que a população negra vivencia uma persistente desterritorialização, agravada pelo gople institucional, que exclui a comunidade negra de forma coletiva. “Precisamos nos articular com forças internacionais para que haja uma nova postura do Brasil em relação à inclusão da população negra. A política externa brasileira é movida à pressão”, ressaltou Dulce.

O ex-deputado federal Luiz Alberto (PT-BA) considera que o Fopir tem um papel a cumprir no cenário de articulação da América Latina e também da África. Ele lembrou que nos últimos anos as organizações africanas passaram a compreender que precisam somar esforços com as lideranças políticas da diáspora.

“Temos uma agenda internacional de combate ao racismo a cumpir. E para isso temos de recuperar nossa trajetória. Precisamos construir as novas estratégias de resistência”, disse Luiz Alberto, para quem a população negra brasileira vivenciou uma mobilidade ascendente individual, mas um retrocesso coletivo na participação socioeconômica, que revela a persistência do racismo institucional, com perspectiva de retrocessos ainda maiores nos próximos anos.

Esse “recuo” proclamado pela maioria da falas em pleno curso na Década dos Afrodescentes, suscitou na represente do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Nilza Iraci, o seguinte questionamento: “como a sociedade civil pode recuperar o protagonismo para que a Década dos Afrodescendentes seja uma realidade?”

O Geledés é uma das organizações que fazem parte do Fopir e que busca respostas para essa pergunta em diálogo com os Poderes Públicos e a sociedade brasileira negra e não negra, que deve sair do seu lugar de conforto para lutar pela continuidade e aprimoramento das políticas de promoção da igualdade racial e de gênero, especialmente pelo combate ao genocídio da juventude negra e em defesa dos direitos das mulheres negras.

Fausto José e Juliana César Nunes (Assessoria de Imprensa – Lançamento FOPIR)