A queda do segundo ministro da Saúde em menos de um mês é só a ponta do iceberg

Por *Julio Menezes Silva.

Na manhã de sexta-feira (15) chegou a notícia de que o ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu demissão. Era a segunda queda do número 1 da saúde no Brasil em menos de um mês. O primeiro, Henrique Mandetta, havia pedido demissão pelas mesmas razões de seu sucessor: a incompatibilidade de trabalhar com um presidente cujo pensamento é conflitante com o pensamento científico universal, no que diz respeito às políticas públicas de combate à pandemia da covid-19. Até o fechamento desse artigo, diga-se, são mais de 15 mil brasileiros que perderam a vida por causa da doença.

A queda de Teich é só a ponta do iceberg. É mais um indicativo de como opera a mente obscura do presidente, que insiste em ignorar estudos sérios a fazer valer as suas fantasias, colocando em risco não só a saúde, mas também a democracia. Lembremos aqui a lista de exageros do gestor da nação, que não é de hoje: homenagem a torturador em plena Câmara dos Deputados, defesa do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), as cotidianas agressões à cobertura jornalística. Ele sempre foi assim, agora, porém, tem o peso da caneta ao seu lado, gerando, de sua desconexão com a realidade, consequências graves.   

Ele tinha 23 anos e era retinto 

Três dezenas de pedidos de impeachment estão engavetados na mesa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que só analisou um deles. Em conversas íntimas, Maia, diz que os deputados que abriram processos de impeachment acabaram tendo mau agouro, informa o colunista Lauro Jardim (O Globo). Na noite de sexta-feira (15), o ministro do STF Celso de Mello determinou que o presidente Jair Bolsonaro seja comunicado de mais uma ação sobre impeachment. Esta de um grupo de advogados que recorreu ao STF afim de determinar que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, avalie a denúncia por crime de responsabilidade. O grupo de advogados elenca uma série de condutas que, segundo eles, configuram crime em meio a pandemia do coronavírus. Será que agora vai, Rodrigo?

Enquanto as instituições, por conivência ou superstição não domam o senhor presidente, ele vai promovendo sua cruzada contra tudo e todos que se opõem a sua visão particular de mundo: ora os ritos democráticos, ora as instituições, ora as leis, ora a imprensa, ora o amor entre iguais. Na visão desse sujeito, o que vale são suas convicções fantasiosas avalizadas por uma centena de puxa-sacos mal-intencionados que estão ao seu redor. Sem esquecer da expressão “quem com porcos anda, farelos come”, vale lembrar um deles.

O relato do ex-ministro Gustavo Bebianno, em carta endereçada ao presidente, intriga. Escrita poucos dias antes de morrer de enfarto fulminante, a carta do ex-político, um dos colaboradores mais íntimos do presidente durante a campanha de 2018 e nos primeiros meses de governo, é cristalina ao descrever a personalidade do presida: “o senhor cultiva e alimenta teorias de conspiração, intrigas e ódio, e ensinou seus filhos a fazerem o mesmo”, “vive em uma prisão mental e emocional”, “o senhor precisa romper esse ciclo de ódio. Do fundo do seu coração, do fundo da sua alma, com toda a sua força”.

Quanto tempo mais o país estará nas mãos de alguém que, além de despreparado e incompetente, quer passar por cima de tudo e de todos e fazer valer a sua visão doentia da realidade? O que falta para que o Brasil tome às rédeas de si e coloque o presidente em seu devido lugar? Quantos brasileiros e brasileiras terão de morrer por causa das loucuras do senhor presidente? É melhor as instituições trabalharem logo, sob o risco delas próprias não resistirem à transloucada ação de um presidente que não tem amor no coração, não cultiva razão no encéfalo, mas tem ao seu lado a caneta e as forças armadas.

* Julio Menezes Silva é jornalista, artista em formação. Coordenador de comunicação do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) e integrante do Fórum Permanente Pela Igualdade Racial (FOPIR)